VIDA


Vida
Consorte
Da morte
Atrevida

OLHO PARA FORA


Olho para fora
O medo me invade
O imenso céu chora
Sobre esta cidade

Negro firmamento
O chão rubro está
Chuva corroendo
O resto de ar

Feridas abertas
não querem secar
Almas libertas
Insistem em ficar

Irracional criatura
Mata a natureza
Por cobiça ou loucura
Esparge a impureza

Olho para fora
O medo me invade
Libertou Pandora
Mental insanidade

TROCA


A morte é dolorosa
Por ser uma troca
Que leva a vida
E deixa a saudade.

AUTOBIOGRAFIA


Como vivi em meus sonhos
e suicidei-me
através dessa minha
insuperável
inércia!

NEM ENTRADAS OU BANDEIRAS ALARGARÃO


Nem entradas ou bandeiras alargarão
o pequeno espaço que é a minha pátria.
Minha terra é onde estão minhas raízes.

As fronteiras já não têm significado,
as paredes já não podem me guardar.
O meu lar é onde estão minhas lembranças.

ANÚNCIO


Precisa-se de alguém
Que atire uma pedra
Nestas águas estagnadas
Em que hoje estou.

TINHA MENOS DE DEZ ANOS


Tinha menos de dez anos
e entre pequenos amigos discutia
o distante ano dois mil,
quando o mundo acabaria.
Com quarenta e um anos eu morreria.
Lá se vão, desde então,
outros vinte que voaram
mais velozes que aqueles quase dez.
Receio que no ritmo desta vida
tão inútil para a própria vida,
acorde amanhã e descubra
que mais dez anos se passaram
e o mundo já acabou.