VOLTO ERAS NO TEMPO PROCURANDO


Volto eras no tempo procurando
ir ao encontro de algum épico tema
pra cantar o meu povo brasileiro,
perpetuando-o neste meu poema.

A épica a mim soou estranha -
não a havia nos atos do meu povo,
cujas ações ao longo de sua história
frágeis foram qual casca de um ovo.

Às tiétides ninfas recorri
e encontrei-as boiando moribundas
nas águas de um esgoto a céu aberto -
águas e ninfas fétidas e imundas.

Deixei a inspiração às margens plácidas,
na forma do que fora meu almoço,
só levando comigo a lembrança
do que mais vira: trôço, trôço, trôço.

Já que a mim as ninfas não acudiram,
procurei que já fora atendido -
a Homero, Virgílio e Camões -
“Um gênio!”, cada um reconhecido.

Criado em língua lusa ou traduzidos,
para mim tudo grego parecia;
voltei a pôr os livros na estante,
enquanto minha idéia perecia.

Meu povo não inspira meus cantares,
tiétides apenas dão-me ânsias
e os clássicos me falam língua estranha.
Meu engenho não encontra ressonância!

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