PENUMBRA SOLIDÃO


Penumbra solidão.
O relógio oscilando o pêndulo
bem poderia bater
tic-tic-tic-tic-tic
monótono, invariável,
mais de acordo com o tempo passante
que se prolonga o mesmo
tic-tic-tic-tic-tic.
Os quadros emoldurados e pendurados
na alva e escura parede
são janelas negras indistintas
sem paisagens, sem retratos, sem figuras,
sem lembranças, sem sentido.
O relógio, ah!, o relógio -
só ele movimenta-se e emite som,
discreto e ensurdecedor
marcando a vida se esvaindo na noite morta.

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Rapina ave mecânica e compassada
alimentando-se do tempo do insone
e inverso Prometeu
tic-tic-tic-tic-tic
de esbugalhados e dilatados olhos
perdidos nos negros quadros
iluminados pelo fogo roubado à imaginação
demiúrgica.
Foram seis as noites insones de Deus,
das quais surgiram céu e terra,
luz e trevas, sol e estrelas,
animais e homens.
No sétimo dia Deus adormeceu
e acabou-se a criação
e perdeu-se o paraíso.

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